quinta-feira, 26 de julho de 2012

Não é límpido ou transparente

Não era uma viagem muito longa. Uma semana. Duas, no máximo. Mas tive a constante impressão de estar levando pouca coisa. Pouca roupa, poucos livros.
Eu não estava acostumada com aeroportos. Era acostumada com carros, viagens de três dias. Canaviais e aquele cheiro terrível.
Não me sentia confortável em um avião. Estão no ar, não era pra mim. Não sou pássaro, não sou nuvem.
Esperava sentada. Um rapaz olhava pra mim. Dezessete, talvez. Tinha em mãos uma revista. História em quadrinhos, acho. Com olhos animados e pernas inquietas, ouvia algo que provavelmente não me apeteceria. Tinha um headphone. Enorme, tão grande quanto sua cabeça morena. A música deveria estar alta, pois a senhora ao seu lado parecia incomodada.
Algumas crianças corriam pela área de espera. Provavelmente por causa da época do ano. Início de janeiro, viagens em família. Pais preocupados, mães ansiosas, crianças elétricas.
Ouvi as palavras. Me chamavam para embarcar. Não foi algo direto e pessoal, é claro. Foi apenas um aviso geral. Eu não teria o prazer de ficar na janela. Corredor.
A imagem de todos os meus possíveis companheiros de voo me aterrorizava.
Não fume, não pode fumar, é proibido fumar. Tantas placas e sinais me deixaram com vontade. Apalpei o maço no bolso do casaco.
Fui a primeira da fileira a me acomodar. Alguns minutos depois, tive que me levantar para que as outras duas pessoas ocupassem seus lugares.
Seus rostos eram turvos.
Fechei os olhos.

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