quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Days, daze

Com uma xícara de café na mão - minha xícara preferida - ela observava, da varanda, a rua."Preciso ir, mas tá ventando muito". Não pedi pra sair. Não estou com pressa. Pode ficar por aqui, eu vou ficar também. "Vai chover. Se sair agora, sei que vou pegar chuva" Ninguém quer isso. Já disse que pode ficar. Quero que fique. Prefiro. "Mas se não for agora, não sei que horas a chuva vai passar, e não sei que horas vou poder ir embora". Não vá. Fique o quanto precisar. O quanto quiser. Se os céus me ajudarem, choverá pra sempre.
Entrou, fechou a porta e ficou encostada na mesma, olhando pra mim. Sentiu frio. Eu sabia disso pois o nariz estava vermelho, e segurava com afinco a tal xícara, que eu presumia estar quente. "Quer um casaco?" "Não, mas aceito mais um pouco de café". Levantei e fui em sua direção. Não se moveu, continuou segurando a xícara, exatamente como estava. Acho que queria que eu chegasse perto, bem perto. Cheguei. Estendeu a mão e sussurrou um tímido "obrigada". Pude sentir ela sorrir ao virar as costas. Desejei que ela pudesse sentir o meu sorriso também.
Já chovia quando voltei, e ela estava sentada no sofá, folheando meu jornal. Entreguei a xícara e observei suas pernas, tão belamente cruzadas. Senti que seus olhos estavam em mim. "Por que não diz nada?" Mas estou dizendo. Olha o tanto de coisa que estou te falando. "É muito difícil te dizer alguma coisa". Fez uma careta, mas depois sorriu. Acho que se sentiu ofendida, mas depois percebeu que era, de certa forma, um elogio. Sentei ao seu lado, apreensivo. Não era desconforto, era só... gostava dela lá, com seu cabelo castanho, suas unhas vermelhas, suas sapatilhas. Gostava do cheiro, da luminosidade. Mulheres em geral eram muito difíceis, e ela também era, mas era de um jeito mais especial. Era melhor. O sorriso sem jeito, a voz baixinha, a insistência em me olhar, jurando que eu nem percebia...
Colocou a cabeça no meu ombro. Ficamos assim até a chuva passar...
Demorou.