sábado, 20 de fevereiro de 2010

O amor ronda as esquinas da tua alma.

Ela sentava lá, em baixo da maior árvore do Parque. Não por causa da sombra, e sim pra se sentir pequena. Deitava na grama verde, provavelmente esmagando aquelas formiguinhas pretas que iam de um lado para o outro. Ela estava no caminho delas. Coitada, era tão incômoda!
Escrevia no caderno velho e surrado tudo que se passava pela cabeça. Desenha nuvens, flores e rostos. Rostos.
Estava piscando e, do nada, ao abrir os olhos brilhantes e castanhos, apareceu. Com patins nos pés e um sorriso no rosto, apareceu. Ela não queria piscar novamente. E se sumisse? E se se fosse assim como apareceu: de repente?
Ela, que estava aérea e sentada em cima de suas próprias pernas, ficou olhando-o. Olhando os cabelos ruivos naturais que reluziam ao Sol, os cachos embaraçados e as sardas pequenas e castanhas/laranjas. E ela ficou lá, com seus fios negros e seu vestido azul. Olhando.

E aquele momento não acabou. Ela só olhou.
E nunca mais piscou.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Hector.

Eu queria passar meus dedos magros e longos nos cabelos cacheados de Hector. Queria arranhar as costas de Hector com minhas unhas rosa pitanga. Queria lhe dizer coisas ao pé do ouvido. Eu queria, depois de uma noite juntos, vestir a camiseta preferida de Hector. Queria beber no mesmo copo. Fumar o mesmo cigarro. Queria ver jogos de futebol com Hector. Queria abraçar Hector. Queria, em uma tarde de Carnaval, fazer almoço para Hector enquanto o bloco não passava. Queria ver filmes com Hector. Queria, com uma voz rouca e desnorteada, dar Bom Dia à Hector. Queria que as pessoas, ao me ver com Hector, perguntassem o que ele estava fazendo com uma garota como eu. Queria que Hector se perguntasse o que eu estava fazendo com ele.
Queria ver filmes de Allen com Hector. Queria a ajuda de Hector nos meus roteiros, que seriam cada vez mais interessantes, graças à irreverência criativa de Hector.
Queria dar um nome à cada pinta nas costas de Hector. Queria arrancar-lhe os cabelos prematuramente brancos. Queria que Hector me puxasse pela cintura cada vez que me visse sem camiseta, ou completamente nua. Queria dividir minha banheira com Hector.
Queria discutir sobre religião com Hector. Queria brigar com Hector, queria fazer as pazes com Hector. Queria ouvir Beatles e Vanguart com Hector nas tardes quentes e abafadas de verão em um apartamento azul na asa norte.
Queria dizer à Hector que ele me lembrava as chuvas de verão. Queria dizer à Hector que caí no oceano quando o conheci.
Queria querer Hector, e queria que ele me queresse também.
Queria conhecer Hector.