domingo, 31 de outubro de 2010

De camomila

Queria poder escrever. Escrever talvez pra mim, ou até mesmo pra você. Um bilhetinho azul com meus garranchos, um recadinho no fundo da xícara de chá. Queria te falar o quão bom é não estar agoniada com o nosso destino, como já estive antes, mas o quão ruim é não estar. Não estar aí, ou não estar aqui. Eu quero estar. E eu quero escrever. Escrever pra você. Pra quando você passar pelo banco da praça e ver aquele poema que rima nada-com-nada saber que eu escrevi, e que escrevi pra mim, mas deixei lá pra você.
Quero não empacar. Quero conseguir pensar e quero que meus pensamentos fluam como meus sentimentos o fazem. Quero saber me expressar, quero me expressar só pra te falar que quero que você leia, que quero que você veja, que quero que você voe e que quero que você diga que eu sou mais do que bem vinda pra voar contigo, afinal, é fácil, é só "cair e errar o chão".
Quero sair de lá, te encontrar pra um café, talvez para um jantar, se você puder ficar. Te faço chá e espero você me chamar pra dançar.
Mas tá chovendo lá fora, hoje é dia das bruxas e eu te digo que não sei dançar. Mas eu sei outras coisas, e estou disposta a te ensinar.
Quero poder escrever pra dizer que estou tentando me controlar, tentando não ser idiota, tentanto tudo não despedaçar. Mas também quero te dizer que meus sonhos sabem onde isso vai dar, mas isso não se sonha, não se conta, não se faz.
Agora é sentar e esperar, novamente, com uma xícara de chá.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sweet Jardim

Era um lugar meio complicado de ser dizer como era. Ou onde ficava. Ou se existia.
Era uma casinha velha, do tipo casinha-velha-dos-anos-50-no-interior-dos-Estados-Unidos. Tinha um lago grande que ela não sabia onde dava porque tinha medo de água. Também tinha muitas plantas iguais, que ela não sabia como chamavam, mas que eram finas e balançavam com o vento forte que sempre fazia. A casinha era feita com madeira gasta, que ela acreditava ter sido pintada de verde. Na verdade, parecia azul, mas ela enxergava verde, pois assim queria, então assim era. Tinha janelas brancas, também bem velhas, gastas e sujas, com praticamente todos os vidros quebrados e um balanço de dois lugares na varanda. Um balanço branco de dois lugares intacto na varanda.
Ela se lembra que chegava sempre muita cansada do ballet, fechava os olhos e, quando abria, se encontrava lá. Então, com suas pernas longas e ossudas, corria em direção ao balanço branco de dois lugares. Deitava nele, amassando seu tutu e desfazendo seu coque. Os cabelos laranja, quase castanhos - ainda hoje há quem diga que ela nunca foi ruiva, que sempre foi "castanha", que "teve a infelicidade que puxar a parte castanha da família do pai"- assim, meio que de uma cor feia, mas com ondas que aludiam imediatamente o movimento do mar, ficavam bonitos vistos de longe.
Era uma imagem bonita de se ver, aquela menina com pernas longas demais e finas demais para seu corpo, sonhos grandes demais para essa vida, deitada naquele balanço branco de dois lugares, sentada com uma perna esticada e a outra dobrada, cantarolando algo como "I see the moon and the moon sees me...", seguindo o vento com a cabeça e com o coração, desejando com todas suas forças se desintegrar para seguir, eternamente, seu movimento.

para ler ouvindo: Tiê - Sweet Jardim

terça-feira, 15 de junho de 2010

Sweet.

"Minha doçura se esvai. Um dia eu soube lidar com isso e havia alguma doçura. Não sei mais nem amar, que era o que eu fazia de melhor. Não sei mais nem me entregar. Não sei mais nada de nada. Eu vou quebrar. Eu acho que eu já quebrei. Isso costumava ser bom. Eu me partia e deixava de ser uma. Agora eu me parto e simplesmente deixo de ser..."

domingo, 23 de maio de 2010

In the sky.

- Sometimes, when I look at the sky, I see the stars moving. I know, they move all the time, and they shine... but people never see it, and I do! I see the stars shining and, when this happens, everything beautiful in the Universe and inside ourselves moves and shines together, because, we like it or not, everything, every little thing, in heaven or earth, are just the same thing, you know?! They aren't the same thing, but they are. One day, maybe, we'll understand.

Disse Lucy e seus olhos chorosos.

sábado, 22 de maio de 2010

Hector #2

Às vezes eu estava lá, com a mão sobre o coração, em uma tentativa vã de fazê-lo ficar no lugar, enquanto Hector dizia que ficaria careca para testar o meu amor. Eu fazia uma cara de desespero e ele ria, bagunçando os fios ruivos de uma forma adorável. Eu fazia um drama, dizia que não tinha graça e me jogava no chão frio simulando um desmaio. Ele passava por cima de mim ignorando totalmente minha presença e ia ao quarto. Trazia alguma lingerie e mandava eu vestir. Depois, me olhava com aquele olhar cheio de intenções e me desenhava. Eu sorria e abaixava a cabeça, tinha vergonha. Ele ficava lá, me olhando, rindo. Ao acabar, largava o carvão em algum lugar e me abraçava. Me deixava com marcas, mas isso era o de menos. Dizia-me para cantar ao seu ouvido e eu o fazia. Ia embora, ficava alguns dias sem aparecer e voltava com um buquê de tulipas azuis e os olhos mergulhados em café. Me olhava, me queria.
Inexistia.

domingo, 18 de abril de 2010

Transcorrer.

É a coisa do talento. Eu nasci para aplaudir, ele para receber. Ou melhor, merecer tais aplausos. Ele reinava soberano no seu (que, ao mesmo tempo, era tão meu) mundo enquanto eu, observando a fumaça sair de sua boca, fazia reverências com a alma.
Era difícil não se sentir ameaçada com os gritos, comentários que eu ouvia, mesmo não querendo, e admiração de todas as garotas, garotos, pessoas. Era mais fácil de perder, afinal, mas gente via o que eu via. Sim, eles viam o mesmo que eu, só que de forma diferente. Eu, mais do que o músico, via o amor, da vida ou não, era isso que eu via. O amor.
Vezenquando ele fazia um versinho em minha homenagem, mas era nosso segredo. Ele nunca me contava, eu só descobria na hora do show, quando ele me olhava com cara de quem queria dizer "euteamotantomeuamor". Eu ficava com vergonha, ele me deixava com vergonha. Mas não deixa mais.
A fumaça do cigarro se foi, assim como os versos.
E o levaram junto.


segunda-feira, 29 de março de 2010

It felt like floating

In the sky.
Or in the sea.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O amor ronda as esquinas da tua alma.

Ela sentava lá, em baixo da maior árvore do Parque. Não por causa da sombra, e sim pra se sentir pequena. Deitava na grama verde, provavelmente esmagando aquelas formiguinhas pretas que iam de um lado para o outro. Ela estava no caminho delas. Coitada, era tão incômoda!
Escrevia no caderno velho e surrado tudo que se passava pela cabeça. Desenha nuvens, flores e rostos. Rostos.
Estava piscando e, do nada, ao abrir os olhos brilhantes e castanhos, apareceu. Com patins nos pés e um sorriso no rosto, apareceu. Ela não queria piscar novamente. E se sumisse? E se se fosse assim como apareceu: de repente?
Ela, que estava aérea e sentada em cima de suas próprias pernas, ficou olhando-o. Olhando os cabelos ruivos naturais que reluziam ao Sol, os cachos embaraçados e as sardas pequenas e castanhas/laranjas. E ela ficou lá, com seus fios negros e seu vestido azul. Olhando.

E aquele momento não acabou. Ela só olhou.
E nunca mais piscou.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Hector.

Eu queria passar meus dedos magros e longos nos cabelos cacheados de Hector. Queria arranhar as costas de Hector com minhas unhas rosa pitanga. Queria lhe dizer coisas ao pé do ouvido. Eu queria, depois de uma noite juntos, vestir a camiseta preferida de Hector. Queria beber no mesmo copo. Fumar o mesmo cigarro. Queria ver jogos de futebol com Hector. Queria abraçar Hector. Queria, em uma tarde de Carnaval, fazer almoço para Hector enquanto o bloco não passava. Queria ver filmes com Hector. Queria, com uma voz rouca e desnorteada, dar Bom Dia à Hector. Queria que as pessoas, ao me ver com Hector, perguntassem o que ele estava fazendo com uma garota como eu. Queria que Hector se perguntasse o que eu estava fazendo com ele.
Queria ver filmes de Allen com Hector. Queria a ajuda de Hector nos meus roteiros, que seriam cada vez mais interessantes, graças à irreverência criativa de Hector.
Queria dar um nome à cada pinta nas costas de Hector. Queria arrancar-lhe os cabelos prematuramente brancos. Queria que Hector me puxasse pela cintura cada vez que me visse sem camiseta, ou completamente nua. Queria dividir minha banheira com Hector.
Queria discutir sobre religião com Hector. Queria brigar com Hector, queria fazer as pazes com Hector. Queria ouvir Beatles e Vanguart com Hector nas tardes quentes e abafadas de verão em um apartamento azul na asa norte.
Queria dizer à Hector que ele me lembrava as chuvas de verão. Queria dizer à Hector que caí no oceano quando o conheci.
Queria querer Hector, e queria que ele me queresse também.
Queria conhecer Hector.